Comunicado do Comité Central do PCP

<font color=0093dd>PCP reafirma compromisso<br>com os trabalhadores e o povo</font>

O Co­mité Cen­tral do PCP, reu­nido a 21 de Fe­ve­reiro de 2016, pro­cedeu à aná­lise da si­tu­ação po­lí­tica e apre­ciou as­pectos da ac­ti­vi­dade, re­forço e ini­ci­a­tiva po­lí­tica do Par­tido e da luta de massas.

 

I – Por­tugal não está con­de­nado
ao de­clínio

1. A si­tu­ação na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal tem sido mar­cada pelo apro­fun­da­mento da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo.  

Apesar da in­ten­si­fi­cação da ofen­siva do grande ca­pital contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, da ra­pina de re­cursos na­ci­o­nais, da mer­can­ti­li­zação e pri­va­ti­zação de di­fe­rentes di­men­sões da vida eco­nó­mica e so­cial, da in­ter­venção dos es­tados em cen­tenas de bancos com en­trega de vul­tu­osos re­cursos pú­blicos, de novos de­sen­vol­vi­mentos nos me­ca­nismos es­pe­cu­la­tivos e na fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia, da usur­pação do di­reito à so­be­rania dos povos, das pres­sões, in­ge­rên­cias e agres­sões aos que ques­ti­onam a von­tade e o poder dos mo­no­pó­lios e do im­pe­ri­a­lismo, vi­sando re­cu­perar perdas, in­ten­si­ficar a ex­plo­ração e obter novos lu­cros, o facto é que não só per­ma­necem como se avo­lumam e agu­dizam as ex­pres­sões no plano eco­nó­mico e so­cial da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo à es­cala global.

Crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo que, no con­ti­nente eu­ropeu e par­ti­cu­lar­mente na União Eu­ro­peia, – como re­velou a úl­tima reu­nião do Con­selho Eu­ropeu –, con­tinua a ex­primir-se na de­gra­dação da si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial, no avo­lumar de con­tra­di­ções com ele­mentos de de­sa­gre­gação de que é exemplo a po­sição do Reino Unido na União Eu­ro­peia (o cha­mado caso Brexit), na ins­ta­bi­li­dade no sector ban­cário, no apro­fun­da­mento das as­si­me­trias entre as prin­ci­pais po­tên­cias da União Eu­ro­peia e os países da cha­mada pe­ri­feria.

2. Os úl­timos anos em Por­tugal re­pre­sen­taram um pro­fundo re­tro­cesso eco­nó­mico, so­cial e de­mo­crá­tico. A acção do go­verno PSD/​CDS, no se­gui­mento de dé­cadas de po­lí­tica de di­reita da res­pon­sa­bi­li­dade de PS, PSD e CDS, agra­vadas pelos PEC e pelo Pacto de Agressão, levou onde ainda ne­nhum outro go­verno tinha le­vado desde os tempos do fas­cismo a po­lí­tica de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento ao ser­viço dos mo­no­pó­lios con­du­zindo o País a uma dra­má­tica si­tu­ação. O de­sem­prego, a emi­gração, a po­breza, o cer­rado ataque a di­reitos e con­quistas dos tra­ba­lha­dores e do povo, o roubo nos sa­lá­rios e nou­tros ren­di­mentos, a des­truição de postos de tra­balho e a de­gra­dação de ser­viços pú­blicos, o saque dos re­cursos na­ci­o­nais – por via do ser­viço da dí­vida, das pri­va­ti­za­ções, da des­truição de ca­pa­ci­dade pro­du­tiva –, a in­teira sub­missão às im­po­si­ções da UE, do BCE e do FMI, en­fren­taram uma in­tensa re­sis­tência e luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês que aca­baria por impor nas elei­ções de 4 de Ou­tubro a der­rota de PSD e CDS e dos pro­jectos mais ime­di­atos do grande ca­pital a eles as­so­ciado.

3. A pos­si­bi­li­dade en­con­trada, pela der­rota do go­verno PSD/​CDS e pela nova cor­re­lação de forças na As­sem­bleia da Re­pú­blica, de abrir ca­minho à re­cu­pe­ração de di­reitos e ren­di­mentos rou­bados, tem en­fren­tado uma vi­o­lenta ofen­siva po­lí­tica e ide­o­ló­gica, na qual avulta o re­cru­des­ci­mento da cam­panha di­ri­gida contra o PCP e o seu papel na de­fesa e afir­mação dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo. Forças as­so­ci­adas ao ca­pital trans­na­ci­onal, su­por­tadas no plano in­terno no PSD, no CDS e nos cír­culos mais re­ac­ci­o­ná­rios da so­ci­e­dade por­tu­guesa e no plano ex­terno nas ins­ti­tui­ções da União Eu­ro­peia e nou­tras es­tru­turas ao ser­viço do ca­pital mo­no­po­lista, têm re­cor­rido a uma in­tensa ope­ração de in­ge­rência, chan­tagem e pressão para pro­curar impor a sub­missão e a ren­dição aos seus ob­jec­tivos e à sua po­lí­tica de ex­torsão na­ci­onal. Apesar das con­tra­di­ções e in­su­fi­ci­ên­cias da ac­tual si­tu­ação, o que esses sec­tores não con­se­guem to­lerar são me­didas que ainda que de forma tí­mida e va­ci­lante se dis­tan­ciem do rumo po­lí­tico de de­clínio, ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento que cons­titui a sua agenda e que ti­nham como ob­jec­tivo pros­se­guir e apro­fundar.

 

II – Uma nova fase na vida po­lí­tica na­ci­onal
– res­ponder a as­pi­ra­ções e in­te­resses
mais ime­di­atos do povo por­tu­guês

 1. Na ac­tual fase da vida po­lí­tica na­ci­onal, no se­gui­mento de um longo pro­cesso de luta de massas, com a nova cor­re­lação de forças exis­tente na As­sem­bleia da Re­pú­blica, a acção do Go­verno no quadro das po­si­ções con­juntas en­tre­tanto as­si­nadas, estão re­flec­tidas por ini­ci­a­tiva e in­ter­venção do PCP me­didas e dis­po­si­ções que dão res­posta a pro­blemas mais ime­di­atos do povo por­tu­guês e que são em si mesmo prova de como o País não está con­de­nado ao ca­minho da in­ten­si­fi­cação do re­tro­cesso e em­po­bre­ci­mento.
 

2. Nos úl­timos meses, foi pos­sível travar a con­cessão e pri­va­ti­zação das em­presas de trans­portes ter­res­tres de pas­sa­geiros; al­terar o re­gime de pro­tecção de in­va­lidez; re­vogar me­didas le­sivas da dig­ni­dade dos pro­fes­sores e adoptar formas de ava­li­ação para a me­lhoria do su­cesso e apren­di­zagem es­colar; repor os com­ple­mentos de re­forma aos tra­ba­lha­dores das em­presas do Sector Em­pre­sa­rial do Es­tado; pro­teger a mo­rada de fa­mília face a pe­nhoras de­cor­rentes de exe­cu­ções fis­cais; repor os fe­ri­ados re­ti­rados.

Foi também pos­sível, ainda que aquém das pro­postas de­fen­didas pelo PCP, deixar de serem apli­cados cortes sa­la­riais aos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica; as­se­gurar a re­dução da so­bre­taxa do IRS, na base da pro­gres­si­vi­dade, e a sua eli­mi­nação em 2017; abrir ca­minho para a re­po­sição e fi­xação do ho­rário de tra­balho nas 35 horas na Ad­mi­nis­tração Pú­blica; au­mentar o Sa­lário Mí­nimo Na­ci­onal, fi­xando-o em 530 euros, ainda aquém dos 600 Euros que o PCP propõe.

Avanços e pro­gressos que im­porta va­lo­rizar e con­so­lidar, sem es­quecer, con­tudo, op­ções de fundo as­so­ci­adas à po­lí­tica de di­reita e que le­varam a que o PS tenha dado con­ti­nui­dade a pro­cessos que co­lidem com o in­te­resse na­ci­onal como os do BANIF, da CP Carga, da TAP ou do fi­nan­ci­a­mento do pa­tro­nato por via da des­cida da TSU.

3. Na res­posta à ac­tual si­tu­ação, o PCP tem in­ten­si­fi­cado a sua ini­ci­a­tiva po­lí­tica de­sig­na­da­mente com um con­junto de pro­postas apre­sen­tadas na As­sem­bleia da Re­pú­blica para: o com­bate à pre­ca­ri­e­dade; a re­vo­gação do re­gime da re­qua­li­fi­cação na Ad­mi­nis­tração Pú­blica; a sus­pensão dos au­mentos das rendas e dos des­pejos no re­gime da renda apoiada; o acesso dos mé­dicos ao in­ter­nato; a re­versão da en­trega de hos­pi­tais às Mi­se­ri­cór­dias; a eli­mi­nação de por­ta­gens; a con­tra­tação de bol­seiros de in­ves­ti­gação ci­en­tí­fica; a con­tra­tação efec­tiva com vín­culo pú­blico de do­centes do En­sino Su­pe­rior; a de­fesa do ca­rácter pú­blico da água. Pro­postas a que se acres­cen­tarão em breve ou­tras ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas, no­me­a­da­mente para a apli­cação pro­gres­siva do ho­rário de tra­balho das 35 horas a todos os tra­ba­lha­dores, para a in­te­gração do Novo Banco no sector pú­blico ban­cário e para o de­sen­vol­vi­mento de um pro­cesso de re­ne­go­ci­ação da dí­vida.

4. A nova fase na vida po­lí­tica na­ci­onal co­nhece agora, com a apre­sen­tação e ava­li­ação da pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado para 2016, um mo­mento não pouco im­por­tante de­cor­rente dos de­sen­vol­vi­mentos po­lí­ticos que após 4 de Ou­tubro as­se­gu­raram a der­rota do go­verno PSD/​CDS.

O Co­mité Cen­tral do PCP su­blinha que o Or­ça­mento do Es­tado para 2016 é um do­cu­mento da res­pon­sa­bi­li­dade do Go­verno do PS. O facto de poder, ou dever, vir a ex­pressar os com­pro­missos que o PS as­sumiu no quadro das Po­si­ções Con­juntas não al­tera essa ma­triz es­sen­cial. Trans­porta em si todas as li­mi­ta­ções e pos­si­bi­li­dades ex­pressas no grau de con­ver­gência al­can­çado e dos com­pro­missos que lhe pu­deram cor­res­ponder. O Or­ça­mento do Es­tado trans­porta as con­tra­di­ções ine­rentes à pro­cura, não al­can­çável, de res­ponder de forma con­sis­tente e co­e­rente a uma in­versão da po­lí­tica de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento e, si­mul­ta­ne­a­mente, dar cum­pri­mento às re­gras, im­po­si­ções e con­di­ci­o­na­mentos ex­ternos, sejam eles o da sub­missão ao euro, ao pacto de es­ta­bi­li­dade, ao Tra­tado Or­ça­mental ou a uma dí­vida in­sus­ten­tável.

A ine­xis­tência de res­posta es­tru­tural ao pro­blema da dí­vida, os baixos ní­veis de in­ves­ti­mento pú­blico, as op­ções de agra­va­mento de im­postos in­di­rectos que re­caem de forma mais ge­ne­ra­li­zada sobre os por­tu­gueses, no­me­a­da­mente o au­mento do im­posto sobre os com­bus­tí­veis, a in­su­fi­ci­ente tri­bu­tação do grande ca­pital e do pa­tri­mónio mo­bi­liário, são ex­pres­sões dos li­mites e in­su­fi­ci­ên­cias deste or­ça­mento e das op­ções nele as­su­midas.

5. A pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado, não sendo aquela de que o País pre­cisa, abre no en­tanto a pos­si­bi­li­dade, que não deve ser su­bes­ti­mada, de repor di­reitos e ren­di­mentos, travar parte da des­truição e me­lhorar o fun­ci­o­na­mento de ser­viços pú­blicos, pro­gredir, ainda que ti­mi­da­mente, na ta­xação dos grupos eco­nó­micos, re­sistir às ina­cei­tá­veis in­ge­rên­cias por parte da União Eu­ro­peia.

Con­tra­ri­a­mente ao rumo im­posto nos úl­timos anos e aos pro­jectos que PSD e CDS as­su­miam e que es­ta­riam em curso – de­sig­na­da­mente a ma­nu­tenção dos cortes sa­la­riais pelo menos até 2019; o ataque e des­truição das fun­ções so­ciais do Es­tado (de que é exemplo o corte pre­visto de mais de 600 mi­lhões de euros nas re­formas e pen­sões); o pros­se­gui­mento das pri­va­ti­za­ções como as da STCP, da CARRIS ou do Metro; o fa­vo­re­ci­mento fiscal do grande ca­pital, no­me­a­da­mente por via da re­dução do IRC para 17 por cento; a in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores com novas al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral –, a pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado dá ex­pressão a me­didas po­si­tivas já apro­vadas e contém si­nais de sen­tido in­verso que per­mitem con­ti­nuar a dis­cutir e con­cre­tizar me­didas po­si­tivas que res­pondam a le­gí­timas as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e do povo.

A pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado, em cujas me­didas po­si­tivas o PCP teve um papel de­ter­mi­nante, per­mite con­cre­tizar: a re­dução das res­tri­ções à con­tra­tação na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, em par­ti­cular na Ad­mi­nis­tração Local; dar um pri­meiro passo para o com­bate à pre­ca­ri­e­dade na Ad­mi­nis­tração Pú­blica com o le­van­ta­mento das si­tu­a­ções de con­tra­tação pre­cária exis­tentes; o fim da isenção dos fundos imo­bi­liá­rios em sede de IMI; o avanço na re­dução do IVA para 13 por cento na res­tau­ração; o au­mento da Con­tri­buição do Sector Ban­cário; me­didas para uma mais justa tri­bu­tação dos lu­cros, no­me­a­da­mente com al­guma li­mi­tação de isen­ções fis­cais e re­dução dos prazos para re­porte de pre­juízos; a in­tro­dução de de­du­ções fis­cais por fi­lhos ou as­cen­dentes em sede de IRS e a ac­tu­a­li­zação da ta­bela de es­ca­lões deste im­posto; o alar­ga­mento das de­du­ções de des­pesas por de­fi­ci­ência; a in­tro­dução da cláu­sula de sal­va­guarda do IMI; a con­tra­tação de mé­dicos de fa­mília que estão em falta re­cor­rendo à con­tra­tação de 700 jo­vens mé­dicos em for­mação entre 2016 e 2017 e a con­tra­tação tem­po­rária de mé­dicos apo­sen­tados; a ga­rantia de con­tra­tação dos mé­dicos que não ti­veram vaga para aceder ao in­ter­nato; as al­te­ra­ções de sen­tido po­si­tivo re­la­ti­va­mente às taxas mo­de­ra­doras; a con­tra­tação de dou­to­rados no Sis­tema Ci­en­tí­fico e Tec­no­ló­gico Na­ci­onal sem su­jeição a fa­se­a­mento.

Além disso, a pro­posta de Or­ça­mento traduz ou­tras me­didas já apro­vadas re­la­ti­va­mente a re­po­sição de sa­lá­rios, eli­mi­nação da so­bre­taxa de IRS, des­con­ge­la­mento das pen­sões, au­mento ou ma­jo­ração de pres­ta­ções so­ciais do abono de fa­mília, do Ren­di­mento So­cial de In­serção, do Com­ple­mento So­li­dário para Idosos ou do Sub­sídio por As­sis­tência de ter­ceira pessoa.

Entre ou­tras me­didas, o PCP bater-se-á, ainda ao longo da dis­cussão do Or­ça­mento, para al­cançar a in­tro­dução pro­gres­siva da gra­tui­ti­dade dos ma­nuais es­co­lares, im­pedir o au­mento do valor das pro­pinas, me­lhorar o sub­sídio so­cial de de­sem­prego, avançar na re­dução da taxa má­xima do IMI, baixar a con­tri­buição dos tra­ba­lha­dores para a ADSE e para ou­tros sub­sis­temas de saúde pú­blicos, di­mi­nuir a carga fiscal às MPME, au­mentar o valor das re­formas e pen­sões.

E, si­mul­ta­ne­a­mente, o PCP não dei­xará de com­bater me­didas de ca­rácter ne­ga­tivo ins­critas na pro­posta como, entre ou­tras, a ma­nu­tenção em 2016 dos mon­tantes de par­ti­ci­pação das au­tar­quias nas re­ceitas do Es­tado, a ma­nu­tenção de res­tri­ções im­postas aos tra­ba­lha­dores e ser­viços da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e Sector Em­pre­sa­rial do Es­tado com im­pacto nos seus ren­di­mentos, vín­culos, pro­gres­sões e ou­tros di­reitos, as con­ces­sões da Si­lopor e da IP Te­lecom.
 

6. O Co­mité Cen­tral do PCP não pode ainda deixar de as­si­nalar o quadro ina­cei­tável de chan­tagem, pressão e in­ge­rência que foi di­rec­ci­o­nado contra o Or­ça­mento do Es­tado a partir da Co­missão Eu­ro­peia, das agên­cias de ra­ting e dos cen­tros do grande ca­pital e que re­vela o in­con­for­mismo destes sec­tores com um ca­minho, ainda que li­mi­tado, de in­versão do rumo de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento que o go­verno PSD/​CDS impôs nos úl­timos anos.

A cam­panha mo­vida nas úl­timas se­manas contra a pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado, ex­plo­rando os seus li­mites e con­tra­di­ções, que são in­se­pa­rá­veis aliás das pró­prias op­ções do PS, não re­sulta do cha­mado in­te­resse na­ci­onal ou da pre­o­cu­pação com o rigor e cre­di­bi­li­dade das contas pú­blicas e, muito menos, de pre­o­cu­pa­ções so­ciais em torno dos ren­di­mentos e da carga fiscal sobre a po­pu­lação. Por de­trás desta cam­panha, cuja pro­moção en­volve o PSD e o CDS que se ar­ti­culam com os in­te­resses dos grupos eco­nó­micos e com as ori­en­ta­ções e es­tru­turas da União Eu­ro­peia, está, para lá do es­pí­rito re­van­chista de quem viu der­ro­tados os seus pro­jectos para apro­fundar a ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento, o re­ceio dos re­sul­tados e do exemplo da pró­pria luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções que estão a tornar pos­sível a re­po­sição desses di­reitos e ren­di­mentos que foram rou­bados.

7. O voto fa­vo­rável ao Or­ça­mento do Es­tado que o PCP as­sume na sua vo­tação na ge­ne­ra­li­dade é in­se­pa­rável da ava­li­ação quanto ao seu en­qua­dra­mento, de­sen­vol­vi­mento e re­per­cus­sões po­lí­ticas e dos ele­mentos po­si­tivos que re­gis­tamos na pro­posta de Or­ça­mento e que, ainda que com um al­cance li­mi­tado, podem dar res­posta a pro­blemas ime­di­atos e a ex­pec­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. E en­volve si­mul­ta­ne­a­mente a de­ter­mi­nação e o em­penho para que o Or­ça­mento possa cor­res­ponder, também em sede de es­pe­ci­a­li­dade, o me­lhor pos­sível a essas as­pi­ra­ções e ex­pec­ta­tivas.

 

III – Uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda
– ob­jec­tivo que se impõe

 Os pri­meiros meses do Go­verno PS, as me­didas e de­ci­sões to­madas en­tre­tanto, a pró­pria pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado que está em apre­ci­ação re­velam, como sempre afirmou o PCP, que o rumo de de­sen­vol­vi­mento so­be­rano, pro­gresso so­cial e cri­ação de em­prego de que Por­tugal pre­cisa exige não só a rup­tura com as im­po­si­ções da União Eu­ro­peia e ou­tros cons­tran­gi­mentos ex­ternos, mas também a rup­tura com dé­cadas de po­lí­tica de di­reita e com os in­te­resses do ca­pital mo­no­po­lista que do­mina o País.

Se há as­pecto que re­sulta da apre­ci­ação destes meses, e sem pre­juízo dos de­sen­vol­vi­mentos po­si­tivos para o povo e o País, é o ca­rácter li­mi­tado da ac­tual so­lução po­lí­tica e a ne­ces­si­dade de con­ti­nuar a in­tervir e a lutar para dar cada vez mais força a uma ver­da­deira po­lí­tica al­ter­na­tiva, a po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que o PCP propõe ao povo por­tu­guês.

Uma po­lí­tica que: as­suma a ne­ces­sária re­ne­go­ci­ação da dí­vida pú­blica, nos seus prazos, juros e mon­tantes; as­se­gure o con­trolo pú­blico da banca (onde se deve in­cluir desde já a ma­nu­tenção do Novo Banco en­quanto banco pú­blico); pre­pare o País para a li­ber­tação da sub­missão ao euro; res­ponda à ne­ces­si­dade de au­mentar sa­lá­rios, re­formas, pen­sões e ou­tros ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores e das ca­madas po­pu­lares; va­lo­rize o tra­balho e os di­reitos dos tra­ba­lha­dores; tri­bute de forma firme e ade­quada o grande ca­pital; re­lance o in­ves­ti­mento pú­blico, cen­trado na de­fesa e es­tí­mulo da pro­dução na­ci­onal; pro­mova os ser­viços pú­blicos; de­fenda e ga­ranta a so­be­rania na­ci­onal face a im­po­si­ções e cons­tran­gi­mentos ex­ternos, e li­berte o País do rumo de in­te­gração ca­pi­ta­lista da União Eu­ro­peia.

A con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, sendo in­se­pa­rável da con­so­li­dação de todas as me­didas po­si­tivas en­tre­tanto al­can­çadas e do com­bate a todas as me­didas ne­ga­tivas e as­pectos e ori­en­ta­ções da po­lí­tica de di­reita que en­tre­tanto pre­va­lecem, re­quer si­mul­ta­ne­a­mente como ele­mentos de­ter­mi­nantes o alar­ga­mento da in­ter­venção e da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções e um cada vez mais largo apoio ao PCP, às suas pro­postas e ini­ci­a­tiva po­lí­ticas.

 

IV – Re­forçar o Par­tido, in­ten­si­ficar
a ini­ci­a­tiva po­lí­tica, de­sen­volver a luta

Face a um quadro na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal cada vez mais com­plexo e exi­gente, onde enormes pe­rigos e ame­aças con­vivem com a pos­si­bi­li­dade de re­sistir, lutar e der­rotar a ac­tual ofen­siva, o PCP con­firma-se como uma força in­dis­pen­sável aos tra­ba­lha­dores e ao povo por­tu­guês e in­subs­ti­tuível no pro­cesso de trans­for­mação so­cial de que o País pre­cisa.

O re­forço do PCP, num ano em que re­a­li­zará o seu XX Con­gresso nos dias 2, 3 e 4 de De­zembro, cons­titui um ob­jec­tivo e uma ne­ces­si­dade na qual os mem­bros e or­ga­ni­za­ções do Par­tido se devem em­pe­nhar. A luta pela de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos as­sume-se como uma opção in­dis­pen­sável para me­lhorar as con­di­ções de vida, de­fender o País e abrir ca­minho à rup­tura com a po­lí­tica de di­reita.

Con­fi­ante nas suas pró­prias forças e in­ter­venção, se­guro do seu per­curso de 95 anos de luta, o PCP re­a­firma o seu com­pro­misso com os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês pela con­cre­ti­zação de uma de­mo­cracia avan­çada as­sente nos va­lores de Abril, parte in­se­pa­rável da luta pelo so­ci­a­lismo e pelo co­mu­nismo.




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